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15 de julho de 2008

Ruy Barata

AUTO-RETRATO
Entre a espuma e a navalha sou legenda

O espelho neutraliza o ângulo da morte,
a barba estrangulou a metafísicae o problema
do mal é bem remoto.Aqui sim !Aqui resistirei
à mímica,ao dicionário e ao laboratório !
- a herança do punhal brilha de novo-
o fantasma de Abel não me intimida.Vejo a
testa crescerentre espirais de fumo,o olhar
que não vacila,da ruga a pré-históriae o peito
rasgadopela fúria do poema.
Aqui sim,aqui iniciarei a espécie nova,aqui

derrotarei o homem-harpae pronto estou para
a descoberta do sexo.O pincel dá-me o poder
do patriarca,a navalha redua a timidez e o medo,
o palavrão rola na boca e salva o mundo.

Do livro A linha ImagináriaEdição Norte - 1951

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